quarta-feira, 31 de agosto de 2005


A Casa do Castelo fechou no fim de semana passado. Para grande pena de uma série de gente que agora terá de procurar um novo spot de verão. Durante não-sei-quantos anos esteve aberta na silly season – I’d rather say hot season - com musica comercial deixando ao rubro até de manhã ( e ás vezes à tarde ) gente de todas as proveniências e idades. Para mim é menos um problema. Invariavelmente, todos os verões acontece-me uma coisa estranhíssima – uma hesitação entre o ir e o não ir a uma festa que sei que vai acontecer na Casa do castelo. Este ano fui a uma. Foi exactamente no sábado passado. Em plenas avencas recebi um telefonema desafiador e resolvi ceder. No programa o que mais me aliciou foi a possibilidade de ir jantar a um restaurante em plena 125 cujo menu se destacava pelos baixos preços de um leitão, uma picanha, uma sangria e outros gourmets ( que ensaio para incluir no menu do meu restaurante em Paris – cf. Artigo anterior). Adorei, confesso. Demorámos hora e meia a chegar e o jantar foi de cair para a banda…. Depois o resto. Casa do Castelo, um amigo que nos encaminhou e encurtou substancialmente a fila, cartões de 30 euros que nem as tostas encheram porque sem darmos conta acabamos por entrar na zona “bar aberto” e ali ficar até ser dia.
Disseram-me que houve fogo de artifício, aviões, palmas, lágrimas, óculos de plástico oferecidos por um patrocínio qualquer, gente gira, gente feia, cabeleireiras fashion e outras da banlieu, unhas de gel, tops da zara e Bubble. Eu não vi nada disso. Achei que a discoteca estava gira, gigante, impessoal, e igual. Não vi nada de novo senão casais da moda que há muito não encontrava ao vivo. Fui à tal festa de Verão e foi suficiente.
Para o próximo ano não há mais. Paciência. Acho que não vou sentir muita falta, aliás nenhuma. Para o ano vou, de certeza encontrar os mesmos de sempre num outro lugar qualquer porque as alternativas encontram-se, nunca se esgotam. Agora ao tal restaurante vou voltar de certeza. Esse não vai fechar e deixou-me saudades… e água na boca.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

Negócio

Tenho outra ideia, mas preciso de opiniões: uma loja exclusivamente de roupa e adereços para casamentos. Vestidos, écharpes, véus, tafetás, chapéus, modelos por medida. Um acostureira brasileira que fique atrás de uma cortina mas que de boa que mãos que seja transforme um trapinho num modelito armani para semi-gordas como eu. Que acabe com o comum dilema feminino de recorrer à pindérica Tintoreto que acerta mais em mães, à invariável e cara Loja Amarela, à irritante Maison, ou às incógnitas que só algumas conhecem em ruas estreitas com coisas giras, mas bem acima do que deveria custar uma roupa que serve só para impressionar num dia. Uma espécie de Osklen para festas, a preços... competitivos (gosto desta forma tão equívoca de falar em acessível).... uma coisa à frente e não execessivamente cara. Uma Mar hum de casamentos, baptizados e festas mais gala... mas que não nos leve a arriscar o kit zara disfarçado com acessorize, facilmente decifrável por tias, pseudo tias e aspirantes a tias ou que passam dias na praia a decorar marcas italianas e cortes que cabem em elle Macphersons mas nunca na tradicional estatura portuguesa ainda que lipo-aspirada, delineada a botox e silicone alterada por saltos de 17 ??? cm

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Estamos ricas

Custa-me imenso voltar de férias, sobretudo porque não estou habituada a férias. Há 4 anos, mais ou menos não tenho férias normais, não tenho dias certos nem planos previamente estudados com mapas e guias freak da internet onde se pode saber o restaurante freak/chique a dar - mas secreto - de um qualquer spot alternativo. Custa-me e está-me a custar este primeiro dia que julgava suceder-se a filas intermináveis de carros na A2 e, quiçá na Nacional que me obrigariam ao pára arranca que me habituei dos tempos de 3 meses de ditas férias em família. Nem trânsito, nem filas, nem nada... Foi como se tivesse estado um fim-de-semana no algarve com calor de verão e enchente de Páscoa, o que é bom mas algo deprimente. A saison está a acabar e é um tirinho até ao regresso às aulas do continente, carrefour, feira nova e dos outros todos. Não me apetece nada voltar ao inverno em Lisboa, com o casaquinho a pingar e buracos na segunda circular à volta dos meninos, à volta da fogueira... eu não vou andar à volta dos meninos. Acabou... Acabou.... prefiro aquecer as mãos num aquecedor, ou montar um restaurante em Paris de comida tradicional portuguesa... um spot freak chique que apareça nos guias que ainda não compro. Dou-me seis meses para uma licença sem vencimento e telemóvel pago por uma conta qualquer desde que não seja a minha que já rasa o fundo ao tacho... por falar em tacho... agora é que é vê-los a fumegar.... como no meu restaurante em Paris que vai deitar um cheirinho que atravessa sebastopol (não sei se se escreve assim) e termina no Sacré Coeur... Mana! Estamos ricas!!!!!!!!

terça-feira, 9 de agosto de 2005

Aquece o Coração...

A minha avó, das minhas irmãs e dos meus primos para além de nos ensinar a comprar compulsivamente qual grito do ipiranga contra a frugalidade imposta pelo meu avô ao longo de décadas que não presenciei - pré e pós IIª guerra Mundial, ensinou-nos outras coisas. Uma delas marca a nossa família. Faz de nós seres diferentes, particulares. Refiro-me à premeabilidade à publicidade. Se a TV diz que é bom é porque é, ou pelo menos na maoiria dos casos. Mais, a senhora do outro lado deveria ser um exemplo a seguir. Daí que aos oitenta e tal seja totalmente permissiva face a comportamentos inaceitáveis no «seu tempo» que eu acho que é mais o meu do que o dela e adore o que a minha geração adore - passear. Com o penteado a Isabel IIª, Laura Barreiro, sempre de mise composta e plix q.b. - que para quem não conhece fique a saber que se trata de um frasquinho pequeno de gotas transparentes que seguram os caracóis durante tempos indeterminados - ouve falar em passeio, viagem, avião, autocarro, comboio, estrangeiro, guia, mapa, restaurante, mala, rodinhas, bilhete, passaporte e prepara-se com uma atencedência que a idade assim exige para a partida. Uma mala de comprimidos, bombas da asma, pomadas e mezinhas para dores, pés inchados, atrites, renites, gastrites, estomactites e todas as outras ites que o seu vocabulário pouco técnico mas actualizado pelos suplementos da Mulher Moderna, grupo Impala assim lhe fornecerem é sempre a primeira a ficar pronta. Segue-se da roupa, com peças para as diversas estações não vá o "diabo tecê-las", outra para sapatos porque apesar de percorrer quilómetros a fio em passeio os pés incham-lhe muito e precisa dos chinelos para a noite, ténis para andar por casa, sapatos para usar com as calças, os mocassins para ir aos museus... enfim sempre precavida, Laura Barreiro senta-se duas horas no canto do sofá à espera que a vão buscar a casa para a passeata seja ela onde for. Deve ter sido desse gosto que nós, netos herdámos uma vontade iminente de sair, viajar... mas não era às viagens que me referia quando comecei a escrever este post. Referia-me a uma particularidade que considero muito própria, a brasa. A Brasa pde ser Mokambo, ou Tofina, Nescafé ou outra marca branca qualquer. Trata-se de uma mistura soluvél com cheiro a café e sabor a qualquer coisa que não café. Foi ela que, tal como no anúncio, insistia com os netos repetindo o slogan: bebe uma Brasinha que aquece o coração. Daí que de manhã, depois do almoço e muitas vezes depois do jantar, sobretudo quando estamos em família, se assista, à mesa, a uma distribuição de chávenas de café, açúcar, desse pó misterioso e um agitar de colheres que fervorosamente transformam os ingredientes desta secreta bebida numa pasta que misturada com água quente se transforma num espumoso... quase-café. Cada vez que bebo lembro-me da avó Laura e aqueço o coração.