segunda-feira, 24 de maio de 2004

Conhecida capítulo II

Nos dias seguintes não sabia bem o que fazer. Acordava cedo, preparava mais curriculuns, arrumava o quarto, ia beber o café ao café mesmo na rua em frente a casa, como uma rotina pré-estabelecida comprava o jornal, via se havia alguma solicitação que pudesse ter interesse para ela e se assim fosse ia tratar da carta de apresentação, mudando apenas a quem se dirigia e enviava, ou caso não houvesse nada ia á Internet fazer buscas de emprego e navegar por sites de bolsas sem qualquer ligação com a sua área. Encontrava um site mais interessante e ficava o resto da manhã até à hora do almoço, a ler fofocas de vedetas internacionais.
Durante uma semana tudo se manteve da mesma forma, com a mesma rotina, dia após dia. À tarde estava com o namorado, mas havia algo que a mudar. Estava a tornar-se cada vez mais impaciente e rabugenta. Implicava por todas as razões e mesmo sem razões; andava nervosa e chorava com a maior facilidade. Bastava ver uma cena mais triste num filme que chorava desalmadamente, a uma pequena contrariedade reagia aos berros com todos. Estava a tornar-se, francamente insuportável. As mudanças de humor começaram a ser tantas que já ninguém tinha muita paciência para a aturar. Começou a viver num pacto mudo e surdo, onde não conversava com ninguém, mas também não queria ouvir ninguém. Não sabia da relação da sua irmã Maria com o Miguel, mas também não queria saber. Evitava estar em casa à hora do jantar que invariavelmente era às 8 horas, para não ter de partilhar aquele momento com a família. Não que os pais comunicassem muito durante essa hora sagrada, porque a rigidez da educação naquele família sempre ensinou a que a esta hora não houvesse muito diálogo, e porque o pai, como homem das letras, preferia ficar atento ao que se passava no mundo, com a televisão com um volume exagerado por excesso devido à sua surdez do ouvido esquerdo. Mesmo assim, preferia estar ausente, não tinha que olhar para a cara da mãe, que permanentemente a observava com um olhar de «Filha, não ouve nenhum telefonema para entrevista? Filha, não te preocupes que não tarda nada encontras alguma coisa.» Era demasiadamente misericordiosa para a sua personalidade, por isso dispensava pena. «Pena têm as galinhas» pensava enquanto ia de carro até à marginal fazer tempo para regressar a casa e, entrar na cozinha quando já todos estivessem na sala, num acto continuado de ver televisão, ou cada um no seu espaço privado da casa.
O tempo ia passando a cada vez mais duvidava de si,. Duvidava se tinha capacidades concretas ou se sempre tinha estado enganada com o valor que se auto proclamava. A auto-estima ia desaparecendo, e, na verdade, o dinheiro também. Nos últimos dias, já não ia de carro dar voltas pela marginal. Ia ao centro comercial, sentava-se num banco e ficava a olhar para um infinito sem pensar em nada, e a começar a ganhar pena de si. O último golpe surgiu quando numa discussão acesa, o namorado lhe disse que já não aguentava o seu «mau feitio», que preferia estar sozinho do que dar tanto a uma pessoa mal agradecida. Que estava sempre ao lado dela e que ela desprezava a sua companhia. Que ela estava a ficar maluca, porque ele não tinha pena dela, mas percebia que não era um momento fácil e por isso queria ajudá-la. «Tens pena, tens, mas eu não preciso da tua pena para nada, nem da tua ajuda, nem da tua companhia, por isso se quiseres podes ir-te embora que eu fico muito bem sozinha. Vens ter comigo porque tens pena de mim, sabes que eu não valho nada e ainda por cima humilhas-me a insistires para irmos a sítios sabendo perfeitamente que eu não tenho dinheiro, para seres tu a pagares e eu ficar-te agradecida. Não, meu menino, muito obrigado, mas não! Agradeço a tua preocupação e a tua pena, mas não quero. Fico muito bem sozinha.»

Conhecida capítulo I

Não havia mais nada a fazer. Assim, Joana pegou na sua carteira de pele, com uns metais incrustados e resolveu sair dali o mais rapidamente possível. A cara fervia e as orelhas também. Na cabeça um só pensamento – ficaram a rir-se de mim e por isso é que tenho as orelhas quentes, que parvoíce pensar que se fica com as orelhas quentes quando supostamente estão a dizer mal de nós, mas eu fico sempre, deve ser dos nervos.
Saiu disparada em direcção ao autocarro. Estava incrédula sobre a forma como as coisas tinham corrido naquela porcaria daquela entrevista. Ainda por cima sem nenhuma explicação, ou melhor uma explicação humilhantemente medíocre. Excluída por não corresponder ao perfil. MAS COMO? A falar quatro línguas, com uma licenciatura em Comunicação Social tirada no tempo certo, sem uma única cadeira para trás, e – modéstia à parte – um corpinho bem feito e uns grandes olhos azuis, tornava-se quase incompreensível. O melhor seria nem pensar mais nisso. As cunhas voltavam a dar de si e mais uma vez nada, o silêncio reinava entre os candidatos. Uns porque não tinham sido escolhidos e preferiam calar-se a denunciar a situação vestindo a pele de mau perdedores. Os outros porque conseguiram pôr as ditas cunhas a «funcionar» e como tal tinham passado à fase seguinte, e seguinte, e seguinte, até serem finalmente escolhidos para fazerem parte do novo staff aéreo da TAP.
Enfim, não valia a pena pensar em mais nada. A viagem do comboio parecia nunca mais ter fim, nunca mais chegava a casa. Não estava com paciência de falar com os pais, as irmãs ou o namorado. Enfrentar as sucessivas perguntas do «Como correu?», «Mas o que é que eles disseram?», enfim, uma série de perguntas que não lhe apetecia de todo responder. Resolveu passar pelo Centro Comercial e comparar umas botas. Por um lado já tinha outro assunto para falar em casa, por outro não ia pensar no assunto durante o tempo que fosse demorar a aquisição. É que para além de tudo, o facto de não ter sido aceite ia, automaticamente, alterar todos os planos para os próximos meses, mas nisso também não lhe apetecia pensar. Chegou a casa contou logo, na esperança de não fazerem as tais perguntas, mas fizeram e ela teve de responder até que, às tantas, farta disse, «Bom, não me apetece falar mais deste assunto.» Pensou rápido num tema que teria pano para mangas e que alguém lá em casa estivesse disposto a querer que outro alguém ouvisse. Nada melhor do que perguntar por um caso amoroso em desenvolvimento. Geralmente, aos outros não apetece ouvir, mas ao próprio apetece contar. «Conta lá mana, o Miguel voltou a telefonar-te foi?» E finalmente desligou.

quarta-feira, 19 de maio de 2004

De Portuuuuuuuuuugallllll

«Vá, despacha-te masé»
«Tou quase a chegar»
«Mas despacha-te, a sério!»
«Não posso por rodas no Comboio, Filipa!! O que é que queres? espera um bocadinho, já estou em Alcântara.»
E dali a 2 minutos estava a chegar numa correria louca. Metemo-nos num táxi, mas como temos sorte(?) fomos parar a um velhote, que trabalhava por conta própria ou seja nem o sistema de comunicações tinha instalado, o que me obrigou a fazer umas 10 chamadas até descobrir que a 2ª Circular ainda estava aberta. Já a descer o Alto dos Moinhos ouvimos no rádio o Goooooooooooooooolooooo!
Continuamos a espremer o velhote que não queria ultrapassar os poucos carros que se atravessavam no nosso caminho. Saltamos do Carro amarelado a correr e procuramos a porta. E depois de umas pouco gentis apalpadelas subimos para os nossos lugares. Lindo. Gente que nunca mais acabava, bandeiras, cachecóis, pinturas sei lá mais o quê. A bancada era demasiadamente privilégiada para podermos soltar os gritos à farta»
Depois conto o resto....

segunda-feira, 17 de maio de 2004

Devota

Sempre rodeada de homens cujas recordações guardava na última gaveta de uma mesinha de cabeceira, para poder mostrar de quando em quando. Amealhava «relíquias» desses santos que num curto mas intenso espaço de tempo idolatrava e depois exibia-as até se fartar, após se ter fartado deles. Na verdade era devota, mas com tempo limite que nem ela própria conseguia calcular à partida, mas que previa curto.
Era uma espécie de beata do amor, da paixão, da intensidade. Isso tinha um efeito duplo, por um lado havia homens que se fascinavam, curiosos, outros não, repugnavam-se pela colecção que ela cuidadosamente tinha expostos na gaveta da mesinha de cabeceira. Numa cidade de milhares de pessoas como Lisboa, uma mulher assim é igual a muitas outras. Mas esta tinha particularidades que marcavam uma natural diferença reconhecida de imediato.
Não era particularmente simpática, nem bonita. Também não era alta, nem tinha um corpo avassalador, mas o conjunto era particularmente sedutor. A leveza com que se mexia, a suavidade com que falava, a energia que emanava tornavam-a um tónico, um elixir que atraía qualquer um.

MAINADA...

E mainada. O Benfica lá ganhou e estamos todos muito contentes ou muito tristes ou muito «nada de especial». O dia está a custar a passar e se me perguntarem porquê, também não sei responder. Problemas, problemas, problemas... mas pior que isso é não gostar do que estou a fazer ou neste momento preciso a não fazer. Um calor insuportável sopra da rua pela janela da sala inevitavelmente aberta para o cinzeiro respirar. Contorço-me de nervos, porque não tenho vontade de pegar em nada para tratar e o telemóvel ai tocando. Sei bem quem são, os chatos do costume que sabem que são chatos, mas que eu não posso fazer nada, porque, no fundo eles precisam de mim, ou melhor dos «meus bons ofícios». Queria ir para casa e ver um filme, quem sabe dormitar um bocadinho para depois acordar já tarde e pensar que posso dormir até ao dia seguinte a sonhar com aquelas coisas que não me apetece pensar.
Passo a vida nisto, a tentar sonhar com coisas nas quais não consigo pensar durante o dia porque simplesmente não quero, mas nos sonhos não posso mandar.
Ah granda benfica. Gritar, gritar, gritar vezes seguidas até ficar rouca como estou hoje dos cigarros sucessivos acesos, fumados, apagados na sola dos meus sapatos.
Vou beber uma imperial assim que chegar a casa porque estou de rastos de um dia tão pouco produtivo. Ridículo, não é? Mainada...

quinta-feira, 13 de maio de 2004

Se eu soubesse!!!!!

Se votas e criticas os políticos. Se telefonas e não queres pagar as contas. Se refilas com a tua mãe mas pedes-lhe dinheiro. Se pagas explicações para depois chumbares. Se comes comida plástica e dá-te vontade de vomitar. Se vais ao Bairro Alto e morres de frio. Se apanhas sol e ficas com alergias. Se queres sair de casa e não sabes cozinhar. Se FO...... sem preservativo mas não queres ter filhos. Se .........
Se eu soubesse não tinha nascido!

Achanatar

Achanatar é uma expressão curriqueira para dizer aquilo que andamos todos a fazer. Todos talvez não, mas alguns. Serve como Saudade, são precisas muitas palavras para explicar o sentido que esta encerra.
Achanatar é não decidir, é não ter ceertezas, é não valorizar o dia no melhor que ele tem. Por exemplo, há quem escreva e não mostre, não partilhe, quem toque e não deixe que os outros oiçam, quem cozinha e não dá a provar, pela simples razão de não ter oportunidade. Eu, por exemplo, também achanato. Ficar em casa a acahnatar é um dos hobbys modernos comuns que muitos temos. particularmente não aprecio, mas muitas vezes deixo-me enrrolar nele. Não achanatemos...Perde-se tanto tempo...

Tentativa de Conversa

Narrador
Ela – irrita-me as conversas dos homens que acham que somos todas burras. Que servimos para - encolhe os ombros – para o que servimos. Eu por exemplo sou gira, sou alta e sou uma excelente profissional.

Ele - Sim, mas dás nas vistas porque és gira. Aliás, até acho que dás mais nas vistas porque és loura.

Ela – Loura não, isto são madeixas. – ar indignado.

Ele – E vêm com estas explicações pseudo-científicas que tentam provar que não são burras. Que não são burras? Bem, nem todas são burras. Eu, por exemplo já conheci várias que não são burras, mas na maioria dos casos são feias, morenas ou velhas.

Ela – Que parvoíce. Essa não é uma teoria, é uma anti-teoria. Não há ponta por onde se lhe pegue. No meu caso, por exemplo, o que é que dirias? Que sou feia? Que sou gira? Que sou burra? Que sou loura?

Ele – No teu caso não digo nada, porque gosto de ti como és.

Ela – Isso não é resposta. Diz lá (a começar a enfurecer)

Ele – Digo que te amo… chega amorzinho… (tentar ser carinhoso)

Ela – Não, não chega.

Ele - Digo que és uma morena loura, esperta e gira.

Ela – Oh, és sempre a mesma coisa, quando vês que as tuas teses não têm justificação desistes…. Mas também já me está a chatear esta conversa. Não quero falar mais nisto. Agora explica lá aquela conversa das várias mulheres inteligentes que conheceste. Quem eram?

Tentativa II

È a associação de sentidos que me dá a realidade e por isso habituei-me a gostar de sabores, cheiros, ambientes, cores, texturas, em vez dos objectos e das pessoas. Esta é uma triste conclusão que só recentemente cheguei e foi preciso passar por várias e diferentes experiências na minha curta vida. Por isso, se este é o meu «testemunho», é também uma despedida daquilo que sou.
Nunca me apercebi bem das pessoas, só das vozes delas, de como soletram, do timbre, da rouquidão e da suavidade. Reconheço rugas, barbas, cabelos, pêlos encaracolados ou lisos. Os cheiros da comida, dos perfumes, das ruas, dos escapes, das árvores. Por isso – e se antes nunca me tinha apercebido, agora que escrevo mais claro se torna – quando viajei procurei sempre tocar, sentir a textura das árvores, dos assentos, da roupa da pessoa que senta ao meu lado. Lembro-me de uma viagem a Paris, em que snetado no avião esperei que a senhora que estava ao meu lado adormecesse para lhe tocar na face. Fi-lo quando serviram a refeição, porque queria sentir as rugas vincadas, hidratadas por um qualquer creme barato, com várias camadas de outros produtos. Senti o cheiro, e o cabelo crespo impregnado provavelmente por uma laca também barata, porque não o deixava respirar. Estava seco, espetado, e era rijo. Reconheci-a pelo cheiro, dias mais tarde no Sacré Coeur, provavelmente fazendo parte de um qualquer esquema turístico. Fazia-me lembrar uma música árabe. A música que ouvi no avião, enquanto lhe toquei nos cabelos e na face.
A minha vida é passada assim, a sentir. Os cheiros também são importantes. Gosto de decompo-los, perceber que estiveram a cozinhar, reconhecer tipos de suor, misturados com desodorizante, ou eaus de toillette.

Tentativa I

A chuva caía miudinha. Chuva «molha tolos» disse o taxista e eu sorri para a minha irmã e apanhando um tom brejeiro, encetei uma conversa que deu para me animar até chegar ao Aeroporto. Ficamos a saber que o senhor morava no bairro da serafina com os seus sete filhos e a mulher doente já tinha sido internada três vezes em Santa Maria por insuficiência renal. «tadita, nunca foi muito saudável… eu já sabia quando me casei, mas quando somos novos a gente só pensa é pela cabeça de baixo» e espreitou pelo retrovisor para avaliar do nossa reacção. Voltei a esboçar um sorriso que suscitou mais uma observação… «As meninas, posso chamar meninas não é?... mas dizia eu, as meninas não casem, aproveitem porque uma família só nos trás problemas…»
Chegamos e demos uma gorjeta medíocre dadas as necessidades visíveis do dito senhor. Para ele «valeu pl’opertunidadi de poder desabafar um bocadito e boa viage». Obrigadinhos dissemos com as mochilas às costas prontas para a nossa viagem, mais uma daquelas que anualmente fazíamos, sem hotéis nem encontros marcados apenas com um bilhete com volta marcada e um electron. Desta vez havia uma variante significativa. Não havia nem um trabalho interrompido por férias fora de época à espera do nosso retorno, nem um semestre a começar. A recessão tinha batido à porta do Portugal dos pequeninos e a dizia-se, lembro-me de ter ouvido no discurso do estado da nação, que a guerra também ia rebentar, com consequências indirectas e uma participação quase assegurada de Portugal. Não me importava minimamente de me ir embora. Não havia lugar para mim, nas empresas que estavam a falir e a despedir cada vez mais gente em Portugal, e felizmente, o subsídio de desemprego estava assegurado durante os próximos dois meses, por isso não teria grandes problemas em me sustentar lá fora algum tempo.
A minha irmã também não. Curiosamente o mesmo tinha acontecido com ela. Com pequenas variantes, ela tinha uma indemnização, e eu não, mas de resto estávamos, mano a mano ou «mana a mana».
A reentre estava a chegar, mas as festas habituais já não me despertavam interesse. Aparecer numa ou noutra revista ao lado de uma amiga que é mais ou menos mediática, ou simplesmente picar o ponto e ganhar mais um dos temas de conversa para os cafés que iria tomar fazendo roer de inveja aqueles que como eu anos antes tinham de penar para um qualquer convite que agora, quase preferia não receber.
É assim a vida, só se quer o que se não tem.

domingo, 9 de maio de 2004

Festa do Século

A Festa do Século! A sério vai lá estar toda a gente… tenho a certeza» e com estas palavras desligámos os telemóveis e eu arrumei depressa as minhas coisas e preparei-me para sair do trabalho. Deixei o computador ligado com uma série de ficheiros abertos que não imaginei que alguém pudesse ver. Já era tarde e de uma maneira geral só o senhor da recepção é que ia à sala, fechar as janelas e o ar condicionado e tirar a chave da porta.
Desci ao parque de estacionamento, a 20 metros dali com o casaco a proteger-me a cabeça para o cabelo não ganhar volume. Já sabia da festa e na véspera tinha ido ao cabeleireiro à hora do almoço para «esticar a carapinha» como costumava dizer às minhas colegas com um acentuado tom brejeiro.
Rumei à linha, sem antes não me esquecer de atestar o depósito que, como sempre tinha o ponteiro a rasar o fundo. Depois de uma série de percalços, prenúncios na minha mais profunda superstição de que a festa seria um profundo desastre, cheguei a casa e despi o meu armário e o meu corpo para ver o que se adequava mais o evento. Não tinha nada novo, para estrear, mas tinha muita coisa velha, com alguma graça, tinha só de pensar no estilo que se adequaria mais à situação, a parte mais difícil.
Hesitei num top que tinha vindo de Paris, mas que embora avant garde ninguém, à excepção de uns ou outros olhos mais cosmopolitas, iria entender… era demasiado «à frente». Dali a um ano faria o seu sucesso. Por isso optei por passar pela Zara e comprar um trapito para o efeito.
Sai a correr com um cigarro na boca, completamente maquilhada e vestida da cintura para baixo e dirigi-me o mais rapidamente possível para o Centro Comercial mais perto.
Mais uma festa, mais uma bebedeira, mais as mesmas caras, as mesmas conversas, as mesmas figuras públicas, as mesmas revistas a perguntarem o mesmo às mesmas pessoas e as mesmas ilustres desconhecidas a colarem-se às mesmas conhecidas para aparecerem, pelo menos de lado numa página qualquer do socialite nacional. País ridículo o nosso.
Mas enfim, eu fazia parte do sistema, também já tinha feito o mesmo, também já tinha estado ao lado dessas figuras públicas, intencionalmente ou não, também tinha aparecido em revistas, de lado, um olho ou um ombro, ou de frente com legenda e tudo, tinha experimentado o sabor doce e o sabor amargo dessa situação e por isso tinha-a desmistificado sem, contudo, conseguir faze-lo às minhas amigas mais apaixonadas pela fama. Mesmo assim, não conseguia ir a uma festarola mais in sem uma produçaõzita. A razão agora era outra. Tinha medo de começar a ficar velha demais para lá estar.
Fui e foi francamente divertido. No dia seguinte acordei às três da tarde com uma vontade imensa de me meter dentro de água e captar na minha face qualquer raio de sol que brotasse em pleno mês de Fevereiro. Esqueci-me da prancha…burra, burra, burra – já com o fato vestido….

«lirics???»

Acendo um cigarro, estou sozinho,
Faço qualquer coisa na cozinha
Vivo só para mim, e não quero,
Estou a entrar no desespero….

Minto que hoje tenho um programa,
Aqueço um saco e vou prá na cama,
Abro um livro que não quero ler
Faz calor e finjo que está a Chover
Amanhã vai tudo ser igual,
levanto-me bebo um café, folheio o jornal,
Procuro emprego, diz o do lado
«Olhe que a coisa está mal!»
Volto para casa, mas que coisa, ninguém está à minha espera,
Mais uma noite igual, hoje talvez vá ao cinema,
O telemóvel não toca, bebo para ir dormir,
passa o tempo mais depressa e ainda me posso rir,
de mim…
Cretino, estúpido, sozinho,
Ninguém te pega, homenzinho,
Veste-te como deve ser,
Tu já não sabes viver

Fumar mata, olho tabaco,
Mentir mata, fica calado,
Solidão mata, olha pró lado,

quinta-feira, 6 de maio de 2004

Traição

Pode tomar muitas formas, mas muitas vezes não chega a ser. Uma traição pressupõe um sentimento de culpa, uma troca voluntária com a consciência dessa troca. Não traio, porque não troco. Pode ser considerada uma desculpa, mas na verdade não é mais do que a verdade. Porque tenho cada pessoa, na minha vida e na minha consciência a ocupar um lugar próprio, um espaço definido... Por isso os papéis e as importâncias não se misturam. Um amante/um namorado, um patrão/um colega, um pai/um irmão.. cada um é o que é, tem o espaço que tem, não se mistura, não é outra coisa, somente o que é e às vezes mais...

terça-feira, 4 de maio de 2004

Fine Post

C'est mom boulot...mais je preferais dire que ceux, sont mes amis. Que chatice. Na pressa da nossa vida acabamos por não valorizar conscientemente - que é o mais doloroso - a importância das pessoas. Cada um vale o que vale, pelas atitudes, pelos comportamentos, pelos valores... mas vale ainda mais pelos laços que cria. Por exemplo, para mim, é muito importante o relacionamento interpessoal. Valorizo, é certo o profissionalismo, muito, mas poder confiar nas pessoas com as quais passo a maior parte do tempo, do meu dia é muito, mas muito importante. Porque todos nós precisamos disso, de nos sentirmos acompanhados, motivados e certos de que a vida é muito mais do que falhas ou sucessos. Sucessos são óptimos se os pudermos partilhar. eu partilho os meus sucessos,outros oartilham os seus sucessos comigo, por exemplo... Ter um aplauso e olhar para os olhos de algúem no meio da plateia. Mostrar uma expressão triste e saber que, naquele sofá podemos limpar as mãos molhadas de lágrimas.... é isso o que vale a pena porque a alma não é pequena!