sexta-feira, 25 de junho de 2004

What a night...

À medida que vamos ganhando, vamos perdendo… visitantes. Há dias num café da baixa, dois trabalhadores da Função Pública – que dá para tudo, desde «almeidas» até Directores-Gerais – tagarelavam divertidos que o melhor era perdermos: «Já viste os Hotéis do Algarve? Se os ingleses perdem os hotéis ficam às moscas!» ou «os alemães também têm de ganhar!». Sim, sim... penso eu com os meus botões que observam dia após dia a debandada internacional das ruas pombalinas. Não me importo nada, porque também à medida que eles recolhem às suas terras, nós vamos saindo à rua. As lojas deixam de vender bandeiras amarelo torrado ou azul e passam a apostar na combinação verde e vermelha. A «retoma» somos nós que a fazemos porque criamos confiança , em nós, nos nossos serviços, nos nossos produtos – e nos chineses, tá claro – e começamos a comprar, a gerar emprego, a sei lá mais o quê! Vem aí, a bendita e isso é bom! Hoje comprei um top com o nº 7 nas costas e em letras verdes sobre fundo vermelho escrito «Portugal». Na próxima quarta vou voltar a sair á rua – se deus quiser – e a regozijar-me por ver Lisboa cada vez mais vazia, e mais feliz!

segunda-feira, 21 de junho de 2004

1ª vitória

Bairro Alto. 00h15 e uma entremeada no prato de barro. O calor é tanto que nem a T-shirt de alças é suficiente para cortar o calor. Preciso de uma bebida e já vou na segunda imperial. As cores são muitas, mas a tónica é o encarnado e verde, porque Portugal marcou dois golos no «mata-mata». Na nossa mesa, de um lado estão portugueses que comemoram uma suada vitória, no outro estão franceses que tentam juntar-se aos portugueses nessa mesma comemoração. De repente parece que Lisboa é uma Expo, que os bares são tendas provisórias, que tudo se resume a uma diversão internacional. è mais ou menos assim que se vive o «Euro 2004», mas para nós esta vitória foi o melhor, porque precisamos de estímulo para continuar a receber bem. Somos os típicos em cima da hora, que se desenrascam sempre. Que penduram uma televisão num andaime, para o jogo ser visto no arraial do nosso bairro. Que põem um caixote de cartão a fazer de conta que é do lixo. Que vendem cervejas em lojas de roupa, que ficvam abertos mesmo depois do horário de fecho, que os polícias apitam a comemorar vitórias, que não têm merchandising, mas pintam t-shirts a dizer Portugal, que... que ...que... A sardinha já é gorda, mas os franceses não sabem comê-la, muito menos no pão. Fixam-se no primeiro português, se possível portuguesa, a desenvencilhar-se de espinhas e pele e imitam cautelosamente, sem contudo obterem o melhor resultado.
Nas ruas ouve-se «Portugalo», «Putugal», «Potchugal», «Porrtugalo» e Portugal. O hino aparece ás fracções, mas «Ás armas» arremetem-se com uma força vocal inigualável. Parece um estádio cheio em cada esquina da cidade. Estamos em alta, só vos digo... A «portugalomania», profissão de fé que eu também comungo toma formas inesperadas. No messenger todos os «nicks» são por Portugal. Senhoras de 70 anos a gritarem pelo Maniche, pelo Cristiano Ronaldo, pelo Figo... sabem o onze de cor e os autores dos gojos. Fazem-se versos, anedotas, e cumplicidades. Mas ainda há muito para vir. para já, viva Portugal!

quarta-feira, 16 de junho de 2004

POOOOORTUGALLLLLLL....

A praia estava óptima, mas nem o sol que, com o sal me arrepiava a pele das maçãs do rosto, consegui resistir a larga a areia escaldante ás 16 horas. Portugal estava á minha espera e eu sabia que era importante o meu contributo verde e vermelho. (encarnado, se preferirem!) Sem bilhetes para um espectáculo que também é de rua, não precisei de ir longe para participar. A festa foi em cada canto, mas as ruas estavam desertas. À hora, em ponto, não haviam carros a andar, nem pessoas nas ruas, nem gente na praia, nem passeios com ciclistas. Tudo em frente a um écran, porque o jogo acontecia no Norte.
Bandeiras esvoaçavam nas janelas. Eu vesti-me a preceito, como se de um baile de máscaras se tratasse.
Em frente ao «écran gigante» cujo reflexo do sol fazia desvanecer a imagem, sentamo-nos em filinha indiana. Faltava o copo cheio, cigarros e no intervalo uma bifana no pão. Faltavam golos, e «urras», «boa», «vai lá». estremecemos várias vezes e soltamos uma gargalhada com um sonoro «Figo de uma puta, marca o goooolo». Não marcou, mas s honra ficou quase limpa com o pequeno Ronaldo a fazer das suas.
Saímos, de cabeça erguida, não fossem os últimos minutos sequências de desafortunados remates. Os quatro copos de cerveja e os cigarros cravados à polícia de choque, mais atenta ao écran do que à assistência foram suficientes para «instalarem» um sorriso maquinal na minha cara, queimada pelo sol que continuou a insistir, entretanto, nas costas.
Nem tudo está perdido, haja esperança....

sexta-feira, 11 de junho de 2004

Mais cego...

Mais cego é aquele que não quer ver. Hoje compreendo porque é que esta frase está tão popularizada e de facto tem o sentido que encerra em si. Nunca me considerei cega nem acho que o seja, sou bastante perspicaz, mas ás vezes, determinadas contingências da vida fazem-nos ficar cegos. Camilo Castelo Branco escreveu um livro na penumbra, quase cego, um livro que hoje todos os miúdos das escolas lêem, ou pelo menos deviam ler. Eu sempre quis ser alguém. Cresci com o sonho de me tornar ALGUÉM... de alguma maneira. Não a todo o custo, porque bem sei que tudo tem um preço, «não há almoços grátis» ensinaram-me nas aulas de economia, porque tudo o que fazemos tem um preço associado, seja ele apenas o facto de ao optarmos por isto não podermos fazer aquilo. Mas esse objectivo sempre foi prioridade, embora o caminho que trilhei nunca fosse o da imediatez, nem da facilidade. Porque, apesar da consciência das cartas que eram precisas para se ganhar esse jogo, também sabia que quando o sentido ascendente é demasiado rápido, o descendente é-o dez vezes mais.
Esta história não é sobre mim, é sobre pessoas que eu conheço, que ficaram completamente cegas. E quando ficaram cegas começaram a andar às apalpadelas, porque não viam o que estava à frente do seu nariz e tropeçaram sucessivas vezes magoando-se seriamente. Um dos problemas de hoje em dia é imaginarmos um caminho limpo, sem qualquer entrave ou obstrução, e de repente termos sérios aleijões porque fomos descuidados. A vida é assim. Se estivessem atentos talvez não tivessem tropeçado, se não tivessem, antes de tudo isso cegado. Mas cegaram, e contra isso, nada a fazer!
A diferença é que os cegos apuram os sentidos, têm sensações de tudo á volta, físico ou material. Os outros todos que cegam, NÃO!

Um cheque careca... de saber...

«Tás-te a passar?» foi a frase que mais ouvi nos últimos tempos. Ouvi tanto que cheguei mesmo a passar-me para o outro lado, do amor para o ódio, do estímulo ao tédio. Detesto pessoas que me chateiem em vez de me animarem.
Careca de saber que nada muda, passei um cheque em branco, deixei de ouvir, de querer ouvir, de ter paciência para ouvir até que, num ímpeto de cautela, resolvi verificar a minha conta. Estava quase vazia. Resolvi que não quero mais passar cheques em branco, não deixo mais que mexam na minha conta mesmo que não me importe que mexam... Mesmo assim, às vezes o dinheiro faz falta.

quarta-feira, 9 de junho de 2004

Rock in

Tantos dias tantos concertos que tenho a sensação de ter deixado de gostar de música. Mas adorei. Rock in Rio não foi um Sudoeste ou um "Super Pop", ou um "Vilar de Coura". Foi uma Expo 98 condensada em 6 dias, que quem teve a oportunidade de viver, não teve a oportunidade de parar.
Descemos à adolescência quando entrámos no recinto. A relva, depois terra batida - de pó que «encrespa» o cabelo - incita ao salto, à correria. Somos todos miúdos a brincar num parque de diversões também para adultos. O Sumol foi Cerveja, os croquetes foram «baguettes» e os palhaços e as babysitters, foram músicos. Não entoámos o «Parabéns a Você» mas ficamos a cantarolar o Hino «ÔÔÔ Rock in Rio...». De Paul Macartney a Pedro Abrunhosa um mexeram mais que os outros, outros aproximaram mais uns. Outros aproximaram muito.
E se isso não bastasse, fora do relvado a elecrónica foi a alternativa, onde o ar foi suficiente para me permitir um sono profundo.