quinta-feira, 1 de junho de 2006

Alívio

O problema da "pinguinha", é dramático. Pior é o problema da sanita. Aflita para fazer um chichizinho, imaginar, na última manobra de estacionamento, todo o procedimento para chegar à meta.
Está tudo mecanizado, penso. É só percorrer o caminho mais curto em direcção ao WC, chegar, pendurar a mala no cabide que, se Deus quiser há-de haver atrás da porta, limpar a sanita com resmas de papel, de seguida forrá-la com três tiras em duplicado. Finalmente, desapertar o cinto, abrir o fecho, flectir as pernas e deixar-me levar por esse infinito e inigualável prazer.... Mas não. Acontece que os meus planos saem furados. Saio do carro e esqueço-me do telemóvel no banco do lado, volto para trás, o comando não funciona, tento ser o mais rápida possível, abro o carro, tiro telemóvel, atravesso a correr o parque de estacionamento, estou quase lá. Subo, com pressa, o tapete rolante sendo subitamente interrompida por um carrinho Continente com três crianças lá dentro, espero. É só mais um bocadinho. Cheguei. Vejo, na minha direcção uma ex-colega de trabalho de uma amiga, desvio o olhar, mas é inevitável, ela quer conversar: “Então tudo bem?” Tudo bem...(respondo para apressar o fim de conversa) e contigo?... “Comigo... bem, não sabes?” (como é que eu poderia saber? não sei nem quero, por agora saber, mas diz lá?) O quê, aconteceu alguma coisa? (Cai-me ali num pranto) “Sim...olha não queres beber um café, custa-me falar desta coisas assim, desculpa lá... se calhar estás com pressa...” (sim...) Não! Quer dizer, tenho de ir num instante à casa de banho (não queria dizer para ela não ficar à minha espera a controlar o tempo que eu vou demorar, mas tem de ser...). “Então vai que eu espero por ti. Estou arrasada.” (também eu!). Sigo, no limite das minhas forças, para a casa de banho. Está fechada para limpeza. Vou à dos deficientes. Também está fechada. Viro rápido para a outra ponta do shopping. Esta está de certeza aberta. Fico na fila. Espero, com a perninha a abanar, pela minha vez - está tudo mecanizado na minha cabeça, penso. Entro. Não há cabide e a porta não fecha. Encontro uma estratégia alternativa. Faço pressão com a cabeça e seguro a carteira contra a porta que assim já fecha (dois em um, penso). Tento agarrar no rolo, mas dentro daquele redondel metálico com uma lâmina afiada para rasgar o papel só está o cadáver de um rolo. Não faz mal... É só chichi (no fim sacudo a pinguinha). Ops, saiu um punzito… é só ar sonoro… Não. Afinal estou com outras vontades. Solto a carteira e tento que fique presa entre o cotovelo e os joelhos, entretanto flectidos. Uma das mãos segura a porta a outra vasculha a mal. A porta, entretanto fica entreaberta. Tenho as calças nos joelhos e espero que não toquem no chão para não ficarem molhadas na bainha, de um líquido que não quero imaginar o que é. Só encontro talões de gasolina amachucados, ao menos um lencinho. Que se lixe, tenho dois da Galp, são macios. Ao fundo do túnel encontro uma salvação, um lenço ranhoso. Não. Afinal há um intacto, com restos de beatas agarrado. Pronto, estou safa. Que alívio!!!!! Volto ao mesmo sítio onde deixei a amiga da amiga que queria conversar. Está à minha espera. Sentamo-nos calmamente num café e ela fica a falar de não sei bem o quê enquanto eu penso nas coisas boas da vida.

2 comentários:

Rita disse...

cseguiste fazer-me rir A SERIO!! tas la, lololol!!! maria filipa no seu melhor ;)

Jordan disse...

Estou farta de me rir com isto, LOLOLOLOL!
E eu que pensava que era uma personagem - és bem pior!!!!