Uma amiga
Temos imensos amigos e ás vezes nem nos lembramos como gostamos deles. Para mim, amigo é aquele que consigo dizer mal mas não permitam que o façam. É essa a condição sine qua non para considerar meu amigo.
Está aqui uma amiga sentada ao meu lado, meia inóspita, provavelmente a pensar na sua vida e eu na dela. Está a ver-me escrever, sem ler e a fumar um cigarro com as unhas pintadas de castanho escuro.
Somos totalmente diferentes. Ela é loira, olho azul mar, estreita, pequenina, muito senhora. Eu sou morena, ombros largos osso proeminente, não envolto em carninha. Ela gosta das festas, do social, das conversas de ocasião.
Adora coleccionar cromos que a bajulam a cada momento. Eu também adorava, noutro tempo. Os cromos são como os sapatos que transbordam do roupeiro do quarto, aliás do closet - ela tem um closet.
Vive numa casa com cortinas indianas transparentes e tapetes da Casa do Campo. Come fatias finas de fiambre do lombo, sem gordura e sem pão e tabletes de chocolate partidas em quatro quadrados gigantes. Bebe champagne na mesa de tampo de vidro da sala e fuma um cigarrito sem travar, realçando as unhas das mãos arranjadas.
É vaidosa. O espelho da casa de banho é enorme, e em baixo tem uma pedra que sustenta perfumes, cremes para todas as partes do corpo, maquilhagem para qualquer ocasião e bijuteria cara de qualidade evidente.
Tem uma balança transparente, e uma máquina anti-celulite. No hall espalham-se quadros, retratos estilizados por uma amiga pintora que realçam os seus mais finos traços.
No frigorífico tem colada a dieta Kellog’s Special K e na varanda um barbecue que nunca estreou. Não há roupa que não se use naquela casa. Não usa, dá. Não se renova e quando a espiral da moda voltar ao mesmo lugar, não recupera e nem sequer tem saudades. Não se lembra. Compra-se outra. Tem um portátil profissional e uma aparelhagem transparente e luminosa (encrustada???) na parede.
O sofá é enorme e ao lado uma mesa que guarda garrafas de wiskey despejadas à semana e colas light. Há bombons por todo o lado. Toda a casa é um bombom. Ela é um bombom. Sinto-me bem ali.
Ralha-me muito, é arrogante. Não gosta das pessoas que eu gosto. Às vezes é antipática. Tem humores. Mal agradecida. Impõe-se. Já me envergonhou quando se envergonhou a si própria. Nem sempre mostra como é. Não deixa que lhe toquemos no fundo. Tem um bom fundo. É como a sua própria casa. Não é a minha cara, não poderia ser. Mas gosto muito de lá ir, sinto-me bem lá.
Está aqui uma amiga sentada ao meu lado, meia inóspita, provavelmente a pensar na sua vida e eu na dela. Está a ver-me escrever, sem ler e a fumar um cigarro com as unhas pintadas de castanho escuro.
Somos totalmente diferentes. Ela é loira, olho azul mar, estreita, pequenina, muito senhora. Eu sou morena, ombros largos osso proeminente, não envolto em carninha. Ela gosta das festas, do social, das conversas de ocasião.
Adora coleccionar cromos que a bajulam a cada momento. Eu também adorava, noutro tempo. Os cromos são como os sapatos que transbordam do roupeiro do quarto, aliás do closet - ela tem um closet.
Vive numa casa com cortinas indianas transparentes e tapetes da Casa do Campo. Come fatias finas de fiambre do lombo, sem gordura e sem pão e tabletes de chocolate partidas em quatro quadrados gigantes. Bebe champagne na mesa de tampo de vidro da sala e fuma um cigarrito sem travar, realçando as unhas das mãos arranjadas.
É vaidosa. O espelho da casa de banho é enorme, e em baixo tem uma pedra que sustenta perfumes, cremes para todas as partes do corpo, maquilhagem para qualquer ocasião e bijuteria cara de qualidade evidente.
Tem uma balança transparente, e uma máquina anti-celulite. No hall espalham-se quadros, retratos estilizados por uma amiga pintora que realçam os seus mais finos traços.
No frigorífico tem colada a dieta Kellog’s Special K e na varanda um barbecue que nunca estreou. Não há roupa que não se use naquela casa. Não usa, dá. Não se renova e quando a espiral da moda voltar ao mesmo lugar, não recupera e nem sequer tem saudades. Não se lembra. Compra-se outra. Tem um portátil profissional e uma aparelhagem transparente e luminosa (encrustada???) na parede.
O sofá é enorme e ao lado uma mesa que guarda garrafas de wiskey despejadas à semana e colas light. Há bombons por todo o lado. Toda a casa é um bombom. Ela é um bombom. Sinto-me bem ali.
Ralha-me muito, é arrogante. Não gosta das pessoas que eu gosto. Às vezes é antipática. Tem humores. Mal agradecida. Impõe-se. Já me envergonhou quando se envergonhou a si própria. Nem sempre mostra como é. Não deixa que lhe toquemos no fundo. Tem um bom fundo. É como a sua própria casa. Não é a minha cara, não poderia ser. Mas gosto muito de lá ir, sinto-me bem lá.
2 comentários:
Estava aqui a pensar que cheguei a achar-te uma miúda arrogante com a mania que tinha piada, Hoje acho-te um piadão, és uma bem disposta e vê-se que proteges muito aqueles que amas. Estás lá oh matos ; )
É muito isso!!
Coisa mai linda!Ó Palé!
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