domingo, 9 de maio de 2004

Festa do Século

A Festa do Século! A sério vai lá estar toda a gente… tenho a certeza» e com estas palavras desligámos os telemóveis e eu arrumei depressa as minhas coisas e preparei-me para sair do trabalho. Deixei o computador ligado com uma série de ficheiros abertos que não imaginei que alguém pudesse ver. Já era tarde e de uma maneira geral só o senhor da recepção é que ia à sala, fechar as janelas e o ar condicionado e tirar a chave da porta.
Desci ao parque de estacionamento, a 20 metros dali com o casaco a proteger-me a cabeça para o cabelo não ganhar volume. Já sabia da festa e na véspera tinha ido ao cabeleireiro à hora do almoço para «esticar a carapinha» como costumava dizer às minhas colegas com um acentuado tom brejeiro.
Rumei à linha, sem antes não me esquecer de atestar o depósito que, como sempre tinha o ponteiro a rasar o fundo. Depois de uma série de percalços, prenúncios na minha mais profunda superstição de que a festa seria um profundo desastre, cheguei a casa e despi o meu armário e o meu corpo para ver o que se adequava mais o evento. Não tinha nada novo, para estrear, mas tinha muita coisa velha, com alguma graça, tinha só de pensar no estilo que se adequaria mais à situação, a parte mais difícil.
Hesitei num top que tinha vindo de Paris, mas que embora avant garde ninguém, à excepção de uns ou outros olhos mais cosmopolitas, iria entender… era demasiado «à frente». Dali a um ano faria o seu sucesso. Por isso optei por passar pela Zara e comprar um trapito para o efeito.
Sai a correr com um cigarro na boca, completamente maquilhada e vestida da cintura para baixo e dirigi-me o mais rapidamente possível para o Centro Comercial mais perto.
Mais uma festa, mais uma bebedeira, mais as mesmas caras, as mesmas conversas, as mesmas figuras públicas, as mesmas revistas a perguntarem o mesmo às mesmas pessoas e as mesmas ilustres desconhecidas a colarem-se às mesmas conhecidas para aparecerem, pelo menos de lado numa página qualquer do socialite nacional. País ridículo o nosso.
Mas enfim, eu fazia parte do sistema, também já tinha feito o mesmo, também já tinha estado ao lado dessas figuras públicas, intencionalmente ou não, também tinha aparecido em revistas, de lado, um olho ou um ombro, ou de frente com legenda e tudo, tinha experimentado o sabor doce e o sabor amargo dessa situação e por isso tinha-a desmistificado sem, contudo, conseguir faze-lo às minhas amigas mais apaixonadas pela fama. Mesmo assim, não conseguia ir a uma festarola mais in sem uma produçaõzita. A razão agora era outra. Tinha medo de começar a ficar velha demais para lá estar.
Fui e foi francamente divertido. No dia seguinte acordei às três da tarde com uma vontade imensa de me meter dentro de água e captar na minha face qualquer raio de sol que brotasse em pleno mês de Fevereiro. Esqueci-me da prancha…burra, burra, burra – já com o fato vestido….

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