segunda-feira, 17 de maio de 2004

Devota

Sempre rodeada de homens cujas recordações guardava na última gaveta de uma mesinha de cabeceira, para poder mostrar de quando em quando. Amealhava «relíquias» desses santos que num curto mas intenso espaço de tempo idolatrava e depois exibia-as até se fartar, após se ter fartado deles. Na verdade era devota, mas com tempo limite que nem ela própria conseguia calcular à partida, mas que previa curto.
Era uma espécie de beata do amor, da paixão, da intensidade. Isso tinha um efeito duplo, por um lado havia homens que se fascinavam, curiosos, outros não, repugnavam-se pela colecção que ela cuidadosamente tinha expostos na gaveta da mesinha de cabeceira. Numa cidade de milhares de pessoas como Lisboa, uma mulher assim é igual a muitas outras. Mas esta tinha particularidades que marcavam uma natural diferença reconhecida de imediato.
Não era particularmente simpática, nem bonita. Também não era alta, nem tinha um corpo avassalador, mas o conjunto era particularmente sedutor. A leveza com que se mexia, a suavidade com que falava, a energia que emanava tornavam-a um tónico, um elixir que atraía qualquer um.

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