O ridículo carnavalesco
É interessante ver como em mim se operou uma mudança face ao Carnaval. Quando era miúda adorava passear com uma máscara fosse ela qual fosse. Um passeiozito a Belém com uma peruca handmade, de meias de lycra e lãs grossas cozidas. Ia ver os meninos vestidos de zorro ou cowboys e as meninas de damas antigas e fadas. Nunca consegui ser fada, nem princesa, nem rainha, nem dama antiga à séria com armações de ferro dentro do saiote. Não consegui porque a minha mãe nunca me proporcionou esse imenso prazer. Ainda tentei e estive lá perto, mas mais não consegui do que puta fina exagerada nas minhas bochechas redondas ou puta pobre com camisas de dormir dos anos 70 e tules rosa.
Adorava o Carnaval para poder mandar sacos de água na janela do 2º esquerdo da casa dos meus avós – e em trica ter a campainha encravada de tanto tocarem a denunciar-me aos pais. Adorava os bailes de música brasileira genuína e dos longos serões da RTP em directo dos sambódromos brasileiros com maminhas a saltitar entre jóias falsas a fazer de bikini. Adorava ver as plumas e imaginar-me dentro delas.
Hoje acho ridícula a evasão brasileira, que mistura a euforia onde vale tudo e esconde ao mundo a pobreza (de dinheiro e de valores) a que aqueles estão votados. Acho excessiva e até nostálgica. Dá-me pena. Mas têm uma desculpa, têm genuinamente calor, têm alegria, têm música, têm tudo, por isso têm o carnaval assim...
Por cá é diferente. As lojas dos chineses oferecem as novas máscaras de Lycra. São fadas, princesas, zorros, cowboys, diabos – todos com a mesma base – uma fina túnica de tecido maleável onde cabe um S, um M, um L e um XXL, e um remate de tule. São perucas para qualquer disfarce, que uniformizam os looks.
As festas também seguem a mesma linha… já não há baús, nem originalidade. Já não há aquele investimento na novidade que nos obrigava a uma procura profunda nos confins de um armário da avó. É mais fácil, mais prático, mais barato até ir vestido de chinês.
Nos nossos corsos, vemos o novo samba português, em carinhas brancas de bochecha rosada que tentam resistir ao frio e à chuva que insiste em não dar tréguas no sempre diferente dia de Carnaval, em trajes que antevêm constipações, gripes, senão mesmo pneumonias.
É de tal forma deprimente que vemos como rei do Corso o Zé Figueiras e Ricardo Pereira. Um porque canta o "ode lé li róooo" e o outro porque viveu um ano no brasil a ganhar fama na globo. Brasil, logo, Carnaval, logo corso, logo samba português.
Esquecemo-nos que não temos a elasticidade gerada pela mistura africana com a portuguesa que deu no barasileiro e que nos distingue dele. por isso eles são fantásticos capoeiristas, por isso eles são grandes na bola, por isso eles são brasileiros e nós portugueses. Por isso deviamos ficar pelas lojas chinesas, ou nas modistas amélias e pedir um bom corte para ir a um bailarico ouvir o Cid. Ou esquecer o Carnaval... afinal temos as nossas marchas.... genuinamente nossas...
1 comentário:
E bom que foi... a ver o senhor da "cabana junto à praia" a cantar lá no alto do modernaço palco do Casino de Lisboa... Carnaval é onde o José Cid estiver!!!
Enviar um comentário